terça-feira, 3 de dezembro de 2013

FINEZA HIPER


FINEZA HIPER                                                                   Dylan Dolan

Hoje, as moças do nosso conturbado território urbano são hiper alguma coisa quando se trata de cuidar da beleza.
Como a filha da minha vizinha do lado direito, Ricarda Miranda, conhecida como Ricardinha.
De si mesma diz ser super antenada. Seu visu - hiper-moderno.
Aconselha à minha esposa os coturnos. Diz dos coturnos que são ultra-giga. No topo dos trends.
Dela diz minha filha mais nova que o jeans escuro que ela usa de noite é sofisticado, ideal pra night.
A minha filha mais velha diz que o cinto que Ricarda usa por cima do casaco aberto, às segundas, é ultra-tera fashion.
A antenada segue, segundo as fofocas, que ela mesmo ajuda a espalhar, o que lhe disse sua professora vaidosa do primeiro ano do Ensino Médio, a Dona Eudóxia: - Jamais deixem de ser versáteis! Nunca desantenem, moças!
Assim Ricardinha está estragada desde o começo do Ensino Médio. Pimentas em sua boca são girlie.
Se, num grupo, alguma amiga ganha destaque, ela tenta roubar audiência.
Fala pra que todos ouçam : - Os cloghs são o objeto de desejo das fashionistas hoje em dia. Ganharam status. Bombando ultra-super.
Escreve no jornalzinho da escola e, quando tem oportunidade, espalha o periódico pelas paredes do nosso prédio. Um dia, li uma de suas linhas :
Wayfarer, óculos que estão nos olhos dos celebs. Hit no passado. Com tudo na atualidade”.
Não entendi nada. Ou seja, só hit. Um cantor que fez sucesso no passado.
Em frente do prédio já a vi pontificar : - Os trench coats, surgidos na Segunda Guerra Mundial pra proteção dos soldados em relação à chuva e ao frio, dão a tônica do inverno.
Toda a audiência, uma massa não muito paciente, olhava. Todos bestificados com sua pretensão. Torcendo por um escorregão.
Gilda, uma ex-melhor amiga, não aguenta lhe ver. Por sinal, vizinha do lado esquerdo. Tornaram-se inimigas. É só se enxergarem no saguão do prédio que um ringue se forma. É quando o fashion de Ricardinha cai em queda abrupta.
Cada uma delas veste seus palavrões, se aquece. E o sangue começa a subir. Quando conseguem chegar uma no corpo da outra, leva tempo para uma das duas beijar em definitivo a lona.
Porém, o síndico quase sempre chega na hora e dá o velho comando de juiz carateca que foi:
- Yame!!!! 
Claro que sempre munido de sua espada genuinamente japonesa.

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