O galo arrebenta desfiando seu cantar, sucesso costumeiro na favela da Cota.
No leito, dorme, nua, feliz, quase de ventre rompido, a mulher do General do Bonde.
Ela sonha com um ex-namorado, o Joca. Sem querer. Quem controla o sonho?
No sonho, fodem dentro de um carro japonês. É o que ela sabe. Joca coloca uma pomadinha em sua "flor". Pra não doer e dar amor sem gritos. E ele a chama de:
- Cadela! Como é gostoso comê seu cu! Deixa eu lambê ele agora, deixa?
- Vai com tudo. Chupa esse cu, que é seu!
- É meu? Só meu? Ou posso chamá a turma?
- Chama o bonde todo! Quero sentir todos!
O General é observador, mas ainda não tem o dom de enxergar sonhos alheios.
Ele nota um riso de gozo. Mas deduz outras coisas.
Os bicos dos seios dela vermelhíssimos, esfolados de tanto o filho sugar o leite.
Sua irmã não tinha bico. O sobrinho mordia, devorador, e sua mana chorava, escandalosamente, ele lembra.
A irmã acreditava que em outra existência fora uma escrava que teve os peitos dilacerados pela maldade do senhor. Era da Igreja Nova das Neves Níveas. Ciumenta que só. Casada com o Pastor, que antes de ser da igreja era Pai-de-Santo e trambiqueiro. Também era e continuava mulherengo e transsengo. Gosta de mulheres e transsexuais.
Voltemos ao General. Enquanto sua mulher dorme, e recebe o bonde, o ex-bandido Sísifo Diavida prepara-se pra descer o morro.
Olha a esposa e tem a vontade de dar uma foda. Fosse mais cedo, bateria uma, só contemplando as curvas dela.
Mexeu na calcinha dela, colocou um pouco de lado, pra ver o cuzinho dela. Deu um beijo no centro da "flor". O tesão subiu a mil. Então, chegou uma hora que não deu pra evitar. Ele fez tudo e ela não acordou. A cama ficou encharcada de líquidos gozosos.
Ontem, fôra o último dia de transações erradas. Não adiaria mais o conserto da alma. Iria se redimir.
Apenas o medo de que antigos vícios e mortes cobrassem o justo pedágio. Mas seu filho a tudo compensava.
Garantia ao pai, mesmo preso no ventre da mãe?
Mesmo de divisas banhadas em sangue, resolve sair pra procurar emprego.
Iria conseguir.
Descia o morro, leve, de pensar no filho e na mulher. A impressão de deixar os pecados enquanto seguia rumo....Ah, sim. O jornal.
Esquecera o jornal.
Volta correndo e encontra o jornal sujo de café em cima da mesa de mármore.
Com o jornal à frente dos olhos, vai decifrando, marcando com a íris os classificados.
Qual emprego lhe serviria? Era forte como um touro. Serviria qualquer arte em que pudesse usar os braços ou os dedos marcados de gatilho.
Mentalmente, repassava: pacoteiro, carregador, lixeiro, bagrinho?
Posicionava os ombros, enquanto descia, encaixando-os com orgulho e vaidade.
Herdara a constituição física do pai que, embora grande, era pequeno aos seus olhos, pois, bebia muito.
Bebia e surrava a família, começando pela mãe.
Um dia, em que sacara, desnorteado, uma faca, um tiro paralisou-lhe as intenções.
O filho cansara de ver a família sofrer.
Cai uma folha de jornal. Ele não pega. É a página de artes.
Fixa mais os olhos, início de hipermetropia. “Rua Mal. R......, número....É uma porra mesmo. Mancha de café. Caralho!”
Acabou a descida. Agora, tudo horizontal esperança. Pra onde ir, mesmo?
Algo se prepara pra lhe responder. De cada lado, um estranho perfume. Silêncio de calcinhas no varal.
Tarde para a emenda ao soneto. Dois furos no jornal e na carne enfrentam o vento em desclassificada ironia.
Bang!!!Tuiiimmmmm!!!!
De madrugada, o jornal daria uma pequena notícia, devido à importância maior do incêndio na cidade cenográfica da Big Brother.
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