sábado, 30 de novembro de 2013

CASAL FANTASIA

A sala é ampla: algumas cadeiras de estilo clássico, um lustre antigo esculpido ao modo barroco e dois espelhos magnificentes, a Luís XV.


Ele entra, ajeitando vestido e brincos, falando em direção ao banheiro.


Tem paciência, amor! Não foi culpa nossa! A missa é que começou com atraso. Só vou acabar de me ajeitar no espelho da sala! Toma o seu banho e me espera! Hoje, tou doidão pra pegar seu rabão tesudo! 


De repente, pára. Nota pessoas na sala. Parecem gêmeos. Dois homens e duas mulheres. 


Vocês já tão aqui há muito tempo?Pedimos desculpas! Minha esposa é muito religiosa! Tivemos de passar na igreja, e a gente enfrentou um pequeno contratempo. Guiomar explica mais tarde. Ela está tomando um banho rápido.


Fica se ajeitando diante do espelho redondo na parede central.


Sabem, nunca amei ninguém assim! Nunca fui de casamento. Até encontrá-la. Foi bater os olhos nela, num site da“internet”, e pensar: “encontrei o meu amor eterno.


Aproxima-se de um dos homens, pele lisa, cabelo duro, boca excessivamente vermelha, cujos lábios parecem estar prestes a dar um grito ou a chupar um picolé.


Você se vestiria assim, como eu, de vestido e peruca?Ou usaria batom e sutiã? Não? Nem por amor? E por um impulso de carnaval?


Bem, vamos à primeira parte da palestra. Minha esposa ministrará a segunda parte.


Lápis e papel na mão. Vocês sabem que o erótico, apesar da quebra de muitos tabus, na contemporaneidade, ainda é rebaixado ao nível das coisas vis, imorais, irrelevantes, desagregadoras.


E isso só vai mudar a partir da conscientização efetuada por cursos como os nossos.


Quero que vocês façam agora uma dissertação sobre isso. E anotem também um trabalho pra casa. Vai ser em cima de....Ah, este poema colado no espelho. Vou ler pra vocês:

 

Título: A UMA MULHER AMADA

Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.
Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.
Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.

São fragmentos de um poema de Safo, na tradução de Joaquim Fontes. Quero uma análise completa.


Olha-se no espelho grande e comprido, colocado na parede oposta à do outro. Volta a falar de si.


Desde o começo, eu e Guiomar sempre conversamos sobre nossos desejos, procurando lhes ser fiel ao máximo.


Sou louco por ela. Ela é aquele tipo de mulher pela qual a gente faz qualquer metamorfose? A gente vira até barata por mulheres assim.


Sou advogado e dono de empresa, bom marido, na cama e fora dela, até bom pai. Tenho uma filha, ela tem dezoito anos. Aliás, fui casado três vezes. Sou muito amigo de minhas ex.


Porém, quando a reportagem saiu, debandaram todos que eu achava que eram meus melhores amigos. Perdi o respeito na praça. Minha clientela ficou a zero.


Não advoguei mais desde então, nem compareci mais às aulas de MMA.


Acho que vocês leram, não? Desde que a revista fez uma reportagem sobre homens que se vestem de mulher. E expuseram meu retrato. 


Um leve choro.


Vamos esquecer isso, página virada.


Aproxima de sua platéia, quase encostando o nariz nos seios de uma das meninas.


Que roupinha linda a de você! Deixa eu cheirar você, deixa? Adoro lingeries com cheiro de suor. Não, não! Ai, meu Deus, deixa eu resistir. Se Guiomar aparece agora. Escutem. Parece que ela tá me chamando.


Pra ela vir dar a palestra pra vocês, tem de dar umazinha depois do banho. Ah, hoje o assunto da segunda parte da palestra é ....qual é, mesmo? Acho que esqueci.     


Em todo caso, pra adiantar, vocês já podem pegar a apostila com “O Cântico dos Cânticos”, as lingeries abertas, o “Kama Sutra” e “O Papiro de Turim”. Tá tudo debaixo das cadeiras.

Meu Deus, será que vai ter cadeira pra todo mundo? Se for só vocês quatro, tudo bem. Mas acho que tem mais gente pra chegar, né? Parece que um carro parou aí na porta....


Quando a ambulância chegou, junto da polícia, ele tinha acabado de conversar com dois bonecos grandes de teatro de fantoches e duas bonecas infláveis vagabundas de sexshop.


Comprara de baciada e instalara nas cadeiras que jaziam espalhadas naquela sala empoeirada.


Quanto ao roteiro, já estabelecera em sua cabeça dias antes, quando começaram as dores de cabeça.


Guiomar era uma outra boneca inflável sentada no vaso sanitário.


Quando os policiais arrombaram o banheiro, ela usava roupas íntimas de borracha, uma bota cano longo, e estava algemada numa barra de ferro.


Sua sede de amor era tanta que ao soltarem-na, perdeu um braço e metade de uma perna. 

DOTE DO DEFUNTO

Três mulheres conversam do lado de fora de uma academia de boxe, próximas á porta. Um garoto está no canto emburrado pelo castigo imposto por sua mãe.

(Mas, meu caro leitor, esse menino não faz falta à nossa história.)
-Quanto custa?
-Não sei, vão falar na reunião.
-Será que é caro?
-Esse mês pra mim tá tão ruim.
-Pra quem não tá.
Uma das mulheres está apertada.
-Preciso ir no banheiro.
As que ficam fazem gestos de quem tá espantando cheiro ruim.          
-Neuza tá podre mesmo. Deus que me livre.
Muda de assunto.
-Cê viu o que aconteceu com o Zé?
-Com a filha dele, né?                    
-Também. Pois é. Ela não ganhou bebê esses dia? Pois é, diz-que o pai da criança fugiu. E o Zé, que já não tem onde cair morto, vai ter que dar conta de mais uma boca.
 -Não merecia. Já criou os filho e agora tem que bancá os neto.
-Mas é o avô. Que ele pode fazer? Mas a filha não merece..
 -Não sei não. Quem merece? E já te falaram da outra? A outra, mulhé! A cuja! A cachorra! A sonsa!
 -Ah! É, a outra. Essa também não merecia.
-O noivo dela tinha que ficar na dele.
-Foi mexer com cobra, né?
-Cê acha que ela volta a ser a mesma?
Neuza chega aliviada.
-Soprei o que tava me estufando.
-Cê tem que deixar de comer besteira.
Maria, a mais ingênua das mulheres relembra.
 -É o que eu falava pro galinha do meu ex - marido.
As outras olham pra Neuza como se soubessem das suas escapadas com o falecido. Ela finge que não nota.
Neuza se ajeita no banco e informa.
-Ah, tem uma surpresinha pra vocês lá no banheiro.
-Surpresa boa ou ruim?
-Vão lá ver.
As mulheres curiosas vão.
Neuza adverte o menino emburrado.
-Você não. Fica aí, que elas já vêm.
Neuza espera um pouco e as segue. Encosta-se do lado de fora do banheiro. Quando ouve o grito de Maria, sai correndo.
-A desgramada quebrou a caixa e sangrou meu amor!
-O que tinha na caixa?
Palmira interrompe a pergunta quando enxerga um grande membro, um falo de respeito, um pinto dos grandes, a sangrar, talhado no ladrilho. Era simplesmente uma parte do falecido, mas, parecia que respirava, que soltava, em respiração profunda, um último suspiro.
A esperta Neuza já tinha se mandado. Uma vez, em visita à casa de Maria, descobriu a caixinha. Qual não foi a sua surpresa quando viu aquela parte que ela massageara tantas vezes em encontros furtivos com o defunto.
Era o cúmulo. Enquanto ela não ficara com nada do morto, a outra – a esposa – tinha o troço dele mais gostosevenér(eo)ado só pra ela.
Desde aquele momento da descoberta, planejara tudo. Já tinha planos mesmo de seguir viagem, se mandar dali. Ninguém sabia de sua ligação com Goiânia. Lá esqueceria de todas as cobras daqui.
Ninguém sabia de seu ódio disfarçado nem desse plano de fuga, nem mesmo seriam capazes de imaginar, afinal, era tão boa com todos.
Alardeava a torto e a direito que era de Belo Horizonte e que amava Minas Gerais. Mostrava até a identidade. Tinha um sotaque que confirmava isso. Fossem procurá-la, começariam por BH. Era lógico.
Foram as mulheres rapidamente à casa de Neuza. Porém, só houve tempo de enxergarem ao longe o táxi que a transportava para, quem sabe, nunca mais voltar.
Maria chegou a desabafar.
- Tenho parente em Belo Horizonte. Deixa estar que o dela tá guardado.
Coitada.

 

O AFETO QUE LHE RESTA



Chamavam-na de Astronauta . Gostava de colocar plásticos dentro das roupas que vestia. Começara pela calcinha. Depois sutiãs. Logo, logo, estava enfiando sacos de supermercado entre tudo que vestia e a pele. Pra ficar mais....Ela nem sabia pra quê. Só que sentia-se imponente, menos invisível. Ela não sabia, mas o cheiro fétido que exalava já fazia isso.
Chegara ali, há uns quatro anos, sem esperança. No começo, a vontade de dar um fim a tudo. Antes de ali aportar, fora sócia de loja de tintas. Participara de movimentos de reivindicação política. Corretora de bolsa de valores. Ou seja, uma vida que jamais daria a entender onde fora parar. O que acontecera? Ela só tinha lapsos de memória. Não distinguia fácil a diferença entre o que era de si ou dos outros eus que enxergava. Seria sua memória uma criação aleatória? De onde viera mesmo?
O beco onde chegara: uma caverna de cegos de Platão um pouco bêbados de tortas existências.
Enrolado no começo do beco, coberta vermelha, o Zé Fedido. Bebia e se drogava com danones vencidos. O mais miserável. Todos perderam a confiança nele. Certa feita, entregara um monte de amigos à polícia. Dizem que pra encher o currículo de um filho delegado, que não estava nem aí pra ele.
O Cachaça. quase no meio do beco, era um ladrãozinho masoquista. Roubava na cara do lesado. E só tinha uma perna. Fazia o roubo mas não corria o suficiente. Como, né? Este o motivo das cicatrizes. Quando lhe batiam, não tinham dó. Vezes, gostava. Um modo de compensar a invisibilidade. "Pelo menos assim me notam".
Do lado da Astronauta, um cachorro. O "De Lado". Pois andava meio de lado, de tanta porrada nas ancas e nas patas. Principalmente, daquele açougueiro que todo o beco chamava de Japa-Filho-da-Puta-Rasgada. De Lado gostava de brincar com ela. Gostava especialmente de se encostar à sua perna direita. Era a perna mais cheirosa, com menos feridas. Mas chinchava um pouco a esquerda. As pernas eram as suas torres gêmeas, como dissera o Velho.
Ela voltou do centro, hoje, dia do jogo de Brasil e México,meio tonta. Encara o Flor-de-merda, mendigo bicha que dorme no fim do beco, onde tem um espelho grande que ele pegou no lixo. A quem o chama de bicha diz:. "Bicha não, MULHER, E das tesuda" ele/ela dizia....Fora queimado em quase todo o corpo num dia de Natal. Na época, todos tinham de ficar de olho nele. Começara a falar sozinho. E a andar nu. Quase o queimaram novamente. Hoje, voltou a ser flor, embora de m....
O Maluco às vezes dorme com o Flor. Também fica no fim do beco, onde se aproveita de um colchão ortopédico do residente anterior. Diz, pra ferir os sentimentos do outro, que o Flor não chega aos pés do seu bonequinho número um. Um bonequinho que vive com a boca aberta. Ao qual chama de "Meu Político". Quando está apertado, enfia o negócio dele no boneco e mija dentro. Quando está excitado, a mesma coisa. Fica uns vinte minutos num movimento de ir e vir. Durante o dia, anda descalço pela rua, arrastando seus bonecos e segurando a calças pra não cair.
A Astronauta tem saudade do Velho. Era tão bom. Antes das ruas, ele já teve filho, tinha cátedra em Universidade, era muito respeitado. Um dia apareceu no beco sem mais nem menos. Ninguém soube o que acontecera. Ele não era de muita conversa sobre si mesmo. Porém, pra ela ele dizia alguma coisa. Ficara ali uns dois anos. Contudo, certo dia, desapareceu do beco. Ela procurou ele em todo lugar. O diabo é que ela se apaixonara pelo Velho. Como fora deixar isso ocorrer? Gostava de ouvir suas histórias. Com ele, aprendera a falar com biquinho o nome "La Fontaine". Ela gostava de fazer-lhe carinhos. Segundo ele, a única que conseguia erigir o seu "locus picus".
Um dia, ele a levara perto do Museu da Biblioteca e descreveu pra ela tudo que tinha lá dentro. Nem precisou entrar. Ela fechou os olhos e imaginou.
Por onde ele andará? Terá voltado pra casa? A Assistente Social o terá ajudado? Semana passada, ela jurava que o vira dentro de um carro importado pros lados da Ponte do Arco Íris.
De Lado acordara hoje de língua estendida e pingando. Antes de sair, ela o renegara, mas agora, na volta, ela se arrependera. De Lado se aproxima de suas torres gêmeas. A Astronauta desnuda o espaço de suas torres até os joelhos. Ela sabe que este é o afeto certo que lhe resta.

TARDE PARA SÍSIFO

O galo arrebenta desfiando seu cantar, sucesso costumeiro na favela da Cota.

No leito, dorme, nua, feliz, quase de ventre rompido, a mulher do General do Bonde.

Ela sonha com um ex-namorado, o Joca. Sem querer. Quem controla o sonho? 

No sonho, fodem dentro de um carro japonês. É o que ela sabe. Joca coloca uma pomadinha em sua "flor". Pra não doer e dar amor sem gritos. E ele a chama de:

- Cadela! Como é gostoso comê seu cu! Deixa eu lambê ele agora, deixa?
- Vai com tudo. Chupa esse cu, que é seu!
- É meu? Só meu? Ou posso chamá a turma?
- Chama o bonde todo! Quero sentir todos!

O General é observador, mas ainda não tem o dom de enxergar sonhos alheios.

Ele nota um riso de gozo. Mas deduz outras coisas.

Os bicos dos seios dela vermelhíssimos, esfolados de tanto o filho sugar o leite. 
Sua irmã não tinha bico. O sobrinho mordia, devorador, e sua mana chorava, escandalosamente, ele lembra.

A irmã acreditava que em outra existência fora uma escrava que teve os peitos dilacerados pela maldade do senhor. Era da Igreja Nova das Neves Níveas. Ciumenta que só. Casada com o Pastor, que antes de ser da igreja era Pai-de-Santo e trambiqueiro. Também era e continuava mulherengo e transsengo. Gosta de mulheres e transsexuais.

Voltemos ao General. Enquanto sua mulher dorme, e recebe o bonde, o ex-bandido Sísifo Diavida prepara-se pra descer o morro.

Olha a esposa e tem a vontade de dar uma foda. Fosse mais cedo, bateria uma, só contemplando as curvas dela.

Mexeu na calcinha dela, colocou um pouco de lado, pra ver o cuzinho dela. Deu um beijo no centro da "flor". O tesão subiu a mil. Então, chegou uma hora que não deu pra evitar. Ele fez tudo e ela não acordou. A cama ficou encharcada de líquidos gozosos.

Ontem, fôra o último dia de transações erradas. Não adiaria mais o conserto da alma. Iria se redimir.

Apenas o medo de que antigos vícios e mortes cobrassem o justo pedágio. Mas seu filho a tudo compensava.

Garantia ao pai, mesmo preso no ventre da mãe?

Mesmo de divisas banhadas em sangue, resolve sair pra procurar emprego.

Iria conseguir.

Descia o morro, leve, de pensar no filho e na mulher. A impressão de deixar os pecados enquanto seguia rumo....Ah, sim. O jornal. 

Esquecera o jornal.

Volta correndo e encontra o jornal sujo de café em cima da mesa de mármore.

Com o jornal à frente dos olhos, vai decifrando, marcando com a íris os classificados.

Qual emprego lhe serviria? Era forte como um touro. Serviria qualquer arte em que pudesse usar os braços ou os dedos marcados de gatilho.

Mentalmente, repassava: pacoteiro, carregador, lixeiro, bagrinho?

Posicionava os ombros, enquanto descia, encaixando-os com orgulho e vaidade.

Herdara a constituição física do pai que, embora grande, era pequeno aos seus olhos, pois, bebia muito.

Bebia e surrava a família, começando pela mãe.

Um dia, em que sacara, desnorteado, uma faca, um tiro paralisou-lhe as intenções.

O filho cansara de ver a família sofrer.

Cai uma folha de jornal. Ele não pega. É a página de artes.

Fixa mais os olhos, início de hipermetropia. “Rua Mal. R......, número....É uma porra mesmo. Mancha de café. Caralho!”

Acabou a descida. Agora, tudo horizontal esperança. Pra onde ir, mesmo?

Algo se prepara pra lhe responder. De cada lado, um estranho perfume. Silêncio de calcinhas no varal.

Tarde para a emenda ao soneto. Dois furos no jornal e na carne enfrentam o vento em desclassificada ironia. 

Bang!!!Tuiiimmmmm!!!!

De madrugada, o jornal daria uma pequena notícia, devido à importância maior do incêndio na cidade cenográfica da Big Brother.

CUTUCAR O GRILO COM MINDINHO

Chegou o inverno. Inverno de filme antigo. Violão desafinado. Nada a fazer senão ler um cansativo escrito:

“Quando chega a estação fria, as formigas escavam uma câmara de hibernação à profundidade de 1 metro, onde a temperatura se aproxima sempre dos 10°.”

A formiga desviou os olhos para o filme pornô, o açúcar no sexo.
Do seu apê, não ouviu os passos que faziam toc toc toc.
No clímax do filme, o violino recebendo o esticar de todo o arco, batem à porta. “Caralho!”
- Sou euzinha, a cigarra. Preciso de uma caminha.
“Eu dou até a cama, mas quero brincar de cutucar o grilo com o mindinho.”
- Entra.
- Tá fechada.
- Ah, é.
Pega a chave, jogada em cima da camisinha de folha doce.
Escancara a porta.
- Entra, gostosa. A casa é sua.
- Obrigado.
- Então, entra.
- Já, já. Minha mãe ta subindo as escadas.
- Tua o quê?
- A cama é pra ela. É que eu vou numa turnê.
- Cutia ficou sem rabo de tanto fazer favor.
- Uma mão lava a outra e ambas o rosto.
- Quem com farelos se mistura, porcos o comem.
Bate a porta na cara dela.
Olha pelo buraco. Constata o tamanho da área de recreação da mãe da outra.
“Triste da mãe que põe um filho de cu na boca.”

“Aglomeram-se numa grande bola e esperam o regresso de um tempo mais clemente. A forma que utilizam para saber se ''lá em cima'' voltou o bom tempo é simples: algumas obreiras são menos sensíveis do que as outras ao frio e viajam quase sem parar entre a câmara de hibernação e a superfície do ninho.”
Antes que sua saliva escorra por baixo da porta, tara por bundas grandes, reabre a porta.

- Pode ficar. Reconsidero.
Já lá dentro, minutos depois, a formiga:
- Quando eu trampava, em que lidavas?
- Eu sou uma cigarra lésbica, passiva.
- Que coincidência! Eu só transo com cigarras lésbicas.
Cúmplice, a temperatura do ambiente aumenta.
O grelo da alma – mentira de sedução.
Espanta as teias de aranha, abraçando a cigarra, em tesão descomunal, rememorando a ultima leitura que fizera:

“Quando a temperatura se torna mais suave e aparece o sol, vêm também aquecer-se. Quando descem, a temperatura da câmara de hibernação se beneficia de algumas calorias suplementares que as mensageiras térmicas transportaram, o que faz subir um pouco o nível médio de atividade geral. Quanto mais quente se tornar o sol, mais numerosos serão os grupos que virão aproveitá-lo, alertados pelas mensageiras cada vez mais excitadas, até que por fim, a temperatura da câmara de hibernação se torna mais alta (de recordar que a maior parte das formigas abandona o estado de hibernação aos 12°), que toda a população a abandona, retomando à superfície.”F

CHUVA DE SALIVA

Ele de trapos, ela de branco.
Testas meladas, suor lubrificando.
“O mundo mais burro e cego? Dentro e fora?”
Perguntou pra ela. Bebeu e comeu.
Ela: puta, rosto queimado.
Ele: bosta de pombo no ombro direito.
Ela: muda, rosto parado.
Pareceu a ele que ela fez sinal pra um orelhudo.
“Que é isso? Tu tá comigo. Esquece seu proprietário?”
Tirou o revólver da cintura, apontou pro cafetão, e Tum Tum Tum.
Ele falou: tá ligada, prestando atenção?
Ela imóvel.
Ele: o absurdo está no saco roxo do mundo velho!

“Chapeleiro Maluco no País das Maravilhas? Já ouviu falar? Hein? Meu negócio era chá. Sabe, eu disfarçava LSD no chá.”

Com os dedos, alisa o pescoço, fincando as unhas.

“Olha só quanta sujeira no meu pescoço enrugado! Aposto que é mais limpo que o seu! Você parece com a minha sumida Rainha, sabia? Só que ela era tarada por cabeças! Gostava da minha. Sabe quem tomava chá comigo? O Wittgenstein. Gostava mesmo da língua de Alice. Alice, que puta saudade dela, foi minha segunda. A primeira foi a Rainha. Quando a Rainha descobriu, ai ai. Nem te conto. Você não quer comer um salgado? Come, sua merda. Seu cliente morto não vai se espreguiçar mais. Tu vai ficar sozinha nesse inferninho. Não vai chorar? Parece até que vejo sua mãe: filha, cresce pra trabalhar num inferninho nojento até sua morte. E nunca perca o chapeuzinho vermelho. Não pensa você que me engana. Esse teu cliente era o coelho do País das Maravilhas! Reconheci pelo colete e pelo relógio. Ele já tentou me roubar Alice. Tentou se esconder com ela na floresta de copas. Então, atraí ele com minha cara risonha e dei-lhe uma surra de peixeira. Combinei com o Gordo e ele expulsou o coelho pra bem longe. Foi com surpresa que encontrei ele aqui. Tive de me esconder. Por isso estou assim, disfarçado de capim, pra ninguém notar. Alice tinha um corpo maravilhoso. Chamava muito a atenção. Tive de trancafiá-la numa torre, onde ela deixa o cabelo crescer, fazendo tranças maravilhosas. Peguei ela diversas vezes tentando fugir. Tive de contratar vários prostitutos para deixá-la mais sossegada. Nunca mais tentou fugir. Todo dia ela se acaba de sexo e de chá. Claro que a cada novo dia arranjo para ela novos putos. Quando saem da torre, mato-os. Sabe como? Criei-os com minha imaginação. Mato-os da mesma forma, desimaginando-os. Está vendo esse revólver? Só alguns o vêem. O coelho morreu porque viu com a imaginação. E sabe por que você me vê? Porque você usa a imaginação. Por que não tira esse seu chapeuzinho? Eu não existo, você não existe, os ratos à nossa volta não existem, o País das Maravilhas não existe, a Rainha de Copas não existe, Napoleão aqui do lado não existe, e se você insistir em ficar muda, acabo com tua raça. Tá duvidando? Tá duvidando? Tá ou não tá? Eu te estraçalho com isso aqui, ó. Isso aqui é uma cabeça, tá entendendo, sua doutora Chapeuzinho de bosta?”

Ele falava cuspindo. Fazia chuva, essa é a verdade. O senhor da chuva bucal.
Ela anotava. Era psiquiatra de respeito. 
Chegou uma hora que ela teve de tirar o jaleco vermelho todo molhado de saliva prometendo a si mesma nunca mais voltar naquela merda e chamar os enfermeiros para dar uns choques no maluco. 
O jaleco era novíssimo. Ia ter que dar pra caridade.


CONFLITO

A porta bate. Repórter na TV relembra Getúlio Vargas lendo famosa Carta-Testamento. Baixinho, música de Beethoven.
Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa.
Conflito doméstico. Pega a outra pelo braço.
-Por que você é tão bonita? Vi como a fulana te olhava. E tu dando confiança.
-Para de me sufocar!
Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo.
 A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Desvencilha sem dificuldades.
- Quer saber. Tou cheia. A gota d’água. Nossa árvore já deu fruto. E morreu. Hora do testamento.
Tinha mais beleza. Menos músculos porém. Leva um safanão em câmera lenta. A outra:
- Bate mais.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
A vítima, mão na cintura, coxas finas, bufando, estalando mandíbulas. Língua sangrando.
- O quê?
Uma faca perto. Servira pro bolo. Melada de chocolate. Ao lado de um consolo.
- O que o quê?
Olhos fuzilando. Punho direito se ajeitando para o porte da lâmina.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte.
Nada receio. Serenamente, dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.”
- Ah, se eu pudesse prever.
- Esse mundo é mesmo assim. Porca magra não tem rim.
- Você deu o bote, eu caí.
- Você não. Eu sim.
- Agora, fica aí, espalhando o sacramento.
- Um bagulho, graças a ti.
No chão, uma revista erótica mostra uma imagem de Calígula fazendo cuspindo no pênis do seu cavalo.
- Me reduziu a nada.
- Peço o penico e entrego o disco do Pitchulinha. Tchau.
- Espera. Eu vos dei minha vida.
- Agora, vos ofereço a minha morte. Morreram meus sonhos contigo.
Há muito, a relação perdeu o brilho, rompeu as comportas, arrebentou o cabaço.
A outra não aguardou.
- Depois, volto pra pegar as coisas.
-Não sai assim, não. Desliga a porra dessa TV!
Assumiram sua condição lésbica, enfrentando a todos. Mas foi indo, foi indo, gelou. O esfriamento foi paulatino. Surgiram ciclones, furacões, as lavas do vulcão do desinteresse tomaram tudo.
Rosilene ficara sem gosto para Jovenilda.
Jovenilda, na janela, esquece com facilidade. Flerta com a empregada de buço fino e pernas grossas, na sua medida.
Ela não percebe o avião desgovernado que avança na direção do seu apartamento.
Beethoven: TAM TAM TAM TAM.

A GRALHA, O PASTOR, A AMÁSIA E O CAFAJESTEZINHO

Uma Águia, saindo do penhasco, capturou uma ovelha e a levou pras brechas das montanhas mais próximas.

Um pescador, em alto-mar, voltava para casa.

Sem pestanejar, a ovelha se despiu da pele e se revelou a loba que era. 

Até que viu uma alga azul a flutuar.

Depenou a ave real com uma mortal chupada.

Não, não era alga, diz-me o Destino.

Uma Gralha das proximidades, invejosa, quis imitar. Vestiu-se de ovelha. A Águia capturou-a.


Viu o céu azul deitar no mar?

Ela então fez tanto barulho e espalhou tanta cor que a Águia ficou estressada, sem notar que ovelha ela não era, porquanto ovelhas não fazem tanto barulho assim.

Uma mocinha a se afogar com seus cachinhos de anil?

Acontece que ao tirar a pele de ovelha suas frágeis garras com unhas pintadas de azul ficaram presas na lã.


Uma sereia com seus dreads tintos em espuma azul?

O Pastor das ovelhas, que estava disfarçado de Águia, pegou a Gralha, cortou suas penas, bloqueando-lhe a possibilidade de visitar o sol e fez um guarda-chuva resistente.

O Pescador a puxou.
Deu carinho, alimentou-a,
E após tirar descanso
No oceano ela saltou.

“Que boa essa gralha”, diz o Pastor à sua Amásia, enquanto o filho corre na frente e volta. Aprenderá a contar histórias mentirosas. Sim, aprenderá.

MALAFEL E ROMÍSIA

Recebeu o juízo final. Entupido de soníferos.

Romísia, enfurecida e bêbada, enfiou em Malafel a alma em ponta costurada na igreja. Consolou-o.

Depois, esfregou-se nele, gritando histericamente.

Ao pé do caramboleiro, Bíblia com as bordas queimadas.

A partir de então, emudecera, catatônica.

Romísia morrera desde o nascimento e assim continuara, dissimulando a vida.

Devorou um dos testículos de Deus na época.

Todos tínhamos um pouco de culpa.

Éramos a platéia. Masturbávamos.

Ríamos como de um cão e cadela engatados no palco.

E Deus chorava.

Prendíamos segredos na alma inexata.

Nossa incapacidade cabaça experimentava virgindades ansiosas.

Horas embaixo das árvores, testemunhávamos.

Romísia, uma das fúrias gregas.

Ele, deslizante em silente corredeira.

Inventávamos histórias a partir do que presenciávamos.

Éramos sórdidos. Completamente ignóbeis.

Queimamos as asas do anjo, depois de as embebermos de gasolina.

Após, incineramos as nuvens onde ele nascera.

Aguçada a saliva, o Malafel perdeu as asas, enquanto cristal transtornava os olhos de Romísia com seu ornamento fálico.

MEMENTO MORI

Ele, amarrado na cama por ela.

Ele cospe. Ela estala o chicote.

Rima sem ritmo, o gesto de desprezo.
-Do que fui o que resta?
-Filosofia barata.
-Essa agora. Te fiz uma pergunta.
-Delirando.
-Carne. A resposta está na carne, né?
-Fomos ensinados.
-Pagamos o dízimo. Temos direito a respostas.
-Ranger de dentes, cadela.
-Mulher com halo o que sou, cavalo.
-Teu mito serve de escudo. Memento mori.
- Heresia. O mito é nosso. Qual a morte.
- Pequei costelas.
- Me fodeste com o mito de Adão.
- A igreja finge que não nos vê.
- Você ouviu? Me fodeste.

Ela perfura seu pênis com precisão cirúrgica. Engata um brinco.

Estalou, antes que chegassem os cavaleiros do Apocalipse, que estavam na casa da avó.

O DEDO

Chegara em casa, irado. O celular na mão.
- Traíra!
- Olha os modos!
- Me lixo.
- Os vizinhos.
- Se mudaram.
Chuta a mesa. Pratas voam, falsas.
- Eu te segui.
- E aí?
- Eu vi tudo.
- E aí?
- A coisinha também viu.
- E aí? Não conheço coisinha nenhuma.
- A da esquina.
Vê cigarros. Aproveita o clima.
- E esses cigarros?
- São seus, debilóide.
- Não me chama assim. – Torce o braço do outro.
- Puto.
- Sou.
- Viado.
- Sou.
Puxa o revólver.
- Atiro?
- Atira.
- Eu atiro em você. Depois em mim.
- Atira.
Quando a polícia chegou, encontrou o chão já riscado com duas silhuetas humanas em torno delas. Elas só se encaixaram. Como? Não sei, só sei que nas carteiras estavam os velhos fantasmas e dois toquinhos de giz.
Na época de mulheres, chamavam-se Maria da Cruz e Creusa da Ressurreição.
Todos lavaram as mãos e no outro dia as paredes terminaram de cair, sobras de um cangaço doméstico.
Um papel ao largo com o seguinte poema confidenciava a alguém chamada...
No celular ligado, uma voz de atriz: 
... “Bela Floralva, se Amor
me fizera abelha um dia,
todo esse dia estaria
picado em vossa flor:
e quando o vosso rigor
quisestes dar-me de mão
por guardar a flor, então
tão abelhudo eu andara,
que em vós logo me vingara
com vos meter o ferrão....”


ROSA CONSOLADORA

Rosa despe-se.
No espelho, as mãos em concha medem os seios.
Preocupada, não tem mais a certeza do amor pelo ex-marido.
Com a mão, percorre as próprias reentrâncias.
Leva as mãos aos lábios. Sente leve odor úmido, de urina e fezes e cuspe da última transa coprofágica.
O leito, seu grande circo.
Como acrobata, faz uma ponte humana, seu umbigo no ponto mais elevado, a vagina esticada, alongada, escorrendo o resto do esperma adrede recebido.
Ela está só e, sendo assim, sente-se no direito de exagerar todas as posições.
Fica de quatro, seus buracos contraem-se e dilatam, implorando o amor que explora profundidades.
Abre as pernas, bailarina experiente, as coxas potentes numa só linha.
Depois, leva as pernas ao pescoço, as nádegas desprotegidas e arrepiadas.
Um leve som de baixo.
Retoma a verticalidade.
Pega a calcinha minúscula, coloca a prótese peniana e espera o ex-marido, novamente.
O espelho aguarda, em volúpia, o que virá, suspirando, embaciado, um tremor sutil em sua moldura azul e rosa.

AMOR NO ASSOALHO

O homem queda no assoalho, a mão direita no coração, atingido pelo amor desavisado.
A mulher, como se nada fizesse de anormal.
Coloca as roupas no varal, o bumbum brincalhão, roçando uma banda na outra, marcando o compasso erótico (pra ele) do jogo de passa anel.
Queda no assoalho, mudo, e olhando as curvas dela.
Ela dera-lhe durante duas décadas além do trivial.
Dera-lhe o sessenta e nove em parafuso.
Dera-lhe chaves polacas ao modo de queixadas.
Seu último diálogo:
- Não consigo esquecer tu..
- Eu quero mais e você.....
- Não sei dar o suficiente, né?
- Corta esse papo.
- O quê?
- Alguma coisa....
- Faltou? O quê?
- Não sei. Talvez...
- Talvez...
Ela não teve ânimo de completar. Ele já sabia. Mas negava-se a entender.
Ele cai no assoalho. Ela não quer ver mais uma cena. Vai colocar as roupas no varal.
Ele a imagina nua, como um violão sempre cheio de melodias potenciais, tesão despertando em todas as curvas.
Enquanto ele a imagina, caído no assoalho, o coração pulsa como nunca pulsou e irrompe num furor de quem se toca do amor.
Lembra da primeira vez, os uivos, os orifícios do mar dela a expulsarem as espumas do rio dele.
Lembra das pernas dela, abertas, com o fruto pleno, vulcão incandescente, vermelhinho, ora raspadinho, ora cabeludo, dependendo da estação do amor.
Todo ele é amor vivente e morrente. Assim, também, o piso, o teto, as paredes, as baratas ousadas a lhe lamberem os lábios, tudo amor sótão-porão.
Enquanto o rabo dela vibra de vida aos olhos da vizinhança, Eros goza na boca de Thanatos.